quarta-feira, agosto 18, 2004

CURA PELO SOM


“De todas as funções abordadas até agora, nenhuma é tão misteriosa quanto o possível uso medicinal da musica, principalmente para pacientes com mal de Parkinson ou Alzheimer e vitimas de derrame que só melhoram escutando música. Histórias complexas são relatadas pelo neurologista Oliver Sacks em livros como Tempo de Despertar, que foi adaptado para o cinema. É exemplar o caso da paciente Francês D., que sofria de Parkinson e durante as crises ficava paralisada, rangendo os dentes e sofrendo muito.

Sacks descobriu que a única coisa que acalmava os sintomas era a música. Quando Francês ouvia o som, desapareciam completamente todos os fenômenos ”obstrutivo-explosivos” e ela ficava feliz. “A senhora D., repentinamente livre de seus automatismos, “regia” sorridente a música ou se levantava e dançava ao seu som”, escreveu Sacks. O médico percebeu o mesmo efeito em vários outros pacientes. Em alguns casos, só de pensar em música eles ficavam melhores.

Mas, infelizmente, o remédio é temporário, proporcionando uma espécie de equilíbrio momentâneo para o cérebro doente. “A música vence os sintomas ao transportar o cérebro para um nível de integração acima do normal. Ela estabelece fluxo no cérebro, enquanto, ao mesmo tempo, estimula e coordena as atividades cerebrais, colocando suas antecipações na marcha correta”, diz Robert Jourdain. Para o pianista - que procura responder em seu livro por que gostamos tanto de música -, a mágica que ocorre com os pacientes é a mesma que ocorre com todos nós. “A música nos tira de hábitos mentais congelados e faz a mente se movimentar como habitualmente não é capaz. Quando somos envolvidos por música bem escrita, temos entendimentos que superam os de nossa existência. E quando o som para, voltamos para nossas cadeiras de rodas mentais.”

Fonte: Revista Super Interessante agosto 2004, “Para que serve a música? (p. 74-79)